domingo, 25 de agosto de 2013

A Interminável Jornada...



Quando ouvi os primeiros rumores de Star Trek: Além da Escuridão (Star Trek Into Darkness, 2013) e do quanto o segundo filme da franquia havia superado o primeiro, realmente fiquei empolgado. Agora depois que assisti ao filme de J.J Abrams (diretor de Missão Impossível 3 e Super 8) posso dizer que essa informação em parte é verídica.

São cenas empolgantes onde cada take – milimetricamente pensado para fazer eclodir as mais diversas emoções – te leva a fluir no rio da aclamada série clássica cultuada e venerada por uma legião de fãs ao redor do mundo.
Os efeitos especiais e a fotografia estão cada vez mais aprimorados, o elenco – praticamente o mesmo do filme anterior (coisa difícil numa franquia de sucesso) – remete a uma boa química, onde cada ator fez (e muito bem) seu dever de casa.
Principalmente Chris Pine.
O ator está definitivamente exorcizado dos papéis teen do inicio de sua careira (como Sorte no Amor com Lidsey Lohan e O Diário da Princesa 2 com Anne Hataway) e consolida um James Kirk que remonta o original vivido por Willian Shatner e Zachary Quinto por sua vez honra o manto de Spock num mestiço de vulcano e humano, aos poucos descobrindo seu lugar tanto na Enterprise quando no coração da jovem Uhura (Zoe Saldana).

Mas ainda assim creio que o filme (como disse inicialmente) é melhor apenas em parte que o primeiro da série. São óbvios os avanços tecnológicos (parte das filmagens do interior da nave foi realizada no National Ignition Facility (NIF) no Lawrence Livermore Laboratories, lugar de pesquisas sem precedentes pro futuro da energia), mas difícil superar a idéia do encontro entre os dois Spock no filme original (re-brindado nesse filme) e todo o desenrolar da origem da Enterprise.
Então, consideraria um empate técnico, e aqui fala um fã (não da serie original, que achava meio sem graça, confesso) dos filmes de ficção científica e do trabalho cada vez mais verossímil de Abrams.

Kirk depara-se com a morte de seu mentor (a figura mais próxima de um pai, após a morte de seu progenitor) após um aparente atentado gerado por um membro da Frota Estelar.
Imbuído do desejo de vingança, ele parte com a autorização de seus superiores para uma vingança pessoal contra o traidor e dar cabo a vida desse vilão. Claro que estão presentes as dicotomias ‘certo e errado’, ‘razão e emoção’ nesse filme, vividas nas inúmeras questões enfrentadas por Kirk e Spock.

Seguir cegamente as ordens de um superior, entendendo que a palavra dele é irrefutável, hermética e sem erros às vezes apenas denota o quão errados somos nós, em acreditar que exista uma figura tão irretocável, perfeita e sui generis na humanidade. Quando se percebe isso, nota-se o quanto é comum o erro humano em entender que exista alguém superior a você mesmo nessa carne fútil que vivemos.
A superioridade está além do que os olhos podem ver, além das aparências e das circunstâncias. Quem consegue entender que o próximo deve ser respeitado pelo que ele é e não pelo que representa, consegue viver melhor e seguir seu caminho quase sempre em paz consigo mesmo.

Assista ao filme e divirta-se. Eu pelo menos aguardo ansioso pela continuidade dessa franquia (atual) da qual me tornei fã!

Wendel Bernardes.

domingo, 28 de abril de 2013

Ser de Ferro é Normal!!!!



Atenção esse texto contém alguns spoilers!!!!
Uma das franquias mais bem sucedidas dos últimos tempos do cinema mundial, Iron Man 3 estreou nessa última sexta (26/04/2013) com ares de frenesi.
Eram filas quilométricas, fãs usando camisetas que remetiam ao Gladiador Dourado da Marvel e até alguns que cogitaram usar a mesma barba (sui generis) de Tony Stark simplesmente para se ambientar nessa realidade utopica.

O filme realmente faz jus às expectativas. Imagens muito bem coladas, efeitos visuais próximos do real, boa fotografia e as já aguardadas explosões ininterruptas estão no filme, como era de se aguardar. Mas nem por isso a obra deixa de surpreender. Na verdade, surpreende e muito!
Eu realmente acreditava que os roteiristas não fariam da adaptação para essa película algo que remeteria ao filme anterior (em minha opinião, o mais fraco da franquia), mas pode-se dizer que, de certa forma, foram longe demais exagerando em algumas cenas de humor, quase pastelão. Mas nada que Robert Downey Jr. Não soubesse lidar.
A química do ator que há muito não conseguia destaque no cinema com esse Tony Stark cool, sínico e piadista (que não lembra em nada o vingador e dono da Stark Interprises dos quadrinhos) é quem dá o tom nessa trilogia que virou febre.


Encontramos um Tony Stark bem diferente de Iron Man 1. Um herói mais acostumado à realidade de viver na possibilidade caótica do universo elaborado por Stan Lee décadas atrás. Cria-se um paradoxo quando esse mesmo Tony, percebe seu papel um tanto tosco onde deuses caem do céu e aliens destroem New York (o filme se passa cronologicamente um pouco depois de The Avengers) e isso o transforma pra valer,  inclusive em constrangedoras (e hilárias) crises de pânico.
Mas nada poderia ser mais notória do que a pegada que a Marvel/Disney encontrou para vestir o vilão Mandarim (um dos piores inimigos do herói) interpretado pelo excelente Bem Kingsley.

Como ex-leitor de quadrinhos confesso que me contorci na cadeira, mas entendi faz tempo que as franquias adaptam cada vez mais as boas histórias para ganhar sucesso, grana e notoriedade, indiferente da ‘originalidade’ dos personagens e tal.


Gostei de abordagem de certo trecho do filme onde Tony, desnudo de sua armadura reluzente, mantém o foco em sua busca de seu ‘eu’ (muito comum nos filmes de heróis), firmando Tony Stark não num playboy, filantropo e milionário (kkkk), mas nalguém que percebeu que pessoas como Happy Hogan (vivido pelo ator Jon Favreau que também já dirigiu o filme), Jim Rhodes/ Máquina de Combatee (Don Cheadle) e Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) são mais que ‘apenas’ amigos, mas sim, de certa forma, verdadeiras âncoras em fazer desse super-heroi em um cara com sentimentos e humanidade.

Se Pepper (agora definitivamente no status de namorada do protagonista) tinha incertezas se Tony Stark tinha mesmo um coração (alusão à cena já clássica do filme 2) fica evidente nessa continuação que essa dúvida se foi!

Encaro Homem de Ferro 3 como um bom filme de ação/humor/ficção e com algumas tiradas boas, e outras, que figuram nos mais prováveis clichês.... Mas como ninguém é perfeito, relaxei e curti até o final, sabendo que Hollywood tenta se reinventar, mesmo usando idéias quase intocáveis de tão boas, mas, como um mal necessário, nos faz viajar na possibilidade de fazer um Tony Stark (embora reiventado), criar vida e nos entreter a ponto de estarmos aqui voando em nossas imaginações.

Curta o filme e deixe suas impressões!

Wendel Bernardes

Trailler Oficial



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Em Busca da Fé...



 
Dizem que a fé é algo inabalável... será?
Corrine Walker (Vera Farmiga) é uma jovem americana comum, nascida numa família aparentemente ‘normal’, até que ao participar de uma EBF na igreja cristã de sua comunidade, é convidada a ‘aceitar a Jesus’ em seu coração. Apenas aquele gesto - promete o pastor - lhe dará vida eterna e a fará a criança mais feliz da Terra!

Sinceramente Corrine continua se sentindo uma jovem ‘normal’. E cá entre nós, vive também seus dramas. Pouco a pouco começa a se distanciar dessa realidade pregada pelo seu pastor, até que conhece o jovem Ethan Miller (Joshua Leornard), um integrante de uma famosa banda de rock local. A empatia é imediata. Ele é idealista e quer boas letras para sua banda, ela, adora literatura e topa escrever as letras para Os Renegados. Lógico que eles se completavam ainda mais. Faltou pouco para se relacionarem e estarem perdidos de amor.

Um dia, em pequena turnê, um acidente com o ônibus da banda põe em grande risco a vida de todos os integrantes e da família (nessa altura da vida, mesmo adolescentes, já estão casados e têm uma filha ainda bebê). Ao saírem ilesos do terrível acidente, Ethan começa a ter a impressão de que apenas um milagre poderia tê-los salvo.

A partir daí a vida deles torna-se um intensivo nas práticas religiosas. Mudam-se para uma comunidade cristã onde se relacionam apenas entre membros da igreja, cantam, oram e lêem a bíblia e dela se alimentam tão somente.
Mas Corrine, embora muito ligada à fé a aos seus fundamentos, sente que há alguma coisa ausente em sua vida.

O filme narra muitos acontecimentos que vão fundo no dia a dia das comunidades religiosas protestantes. Ritos, ideologia, proibições, filosofia. Cada cena parece ter sido vivida realmente por alguém. De fato, o filme foi inspirado no livro chamado "Este Mundo das Trevas" de Carolyn S. Briggs. A atriz Vera Farmiga atua brilhantemente e dirige esse bom filme alternativo que mostra a busca de alguém que, na verdade, apenas deseja respostas pra questionamentos internos e que nunca se cansa de fazer a pergunta: ‘mas porque’?

Confesso que me identifiquei muito com os personagens principais da película. Eu me sentia uma mistura de Ethan que, apaixonado por tocar sua guitarra e compor para Jesus, sacrificava a tudo, inclusive sua família e até o bom senso. E às vezes me sentia como Corrine que questionava a sinceridade de tudo e a verdade contida em ritos e proibições.
Identifiquei-me com sua paixão pela leitura, pelo conhecimento (em todas as esferas) e por querer tanto mais de Deus em verdade, quanto mais do que o homem pode produzir de bom.

Quem sabe a busca não era justamente para tentar encontrar, não o deus pregado pelas religiões, mas aquele Ser que faz parte de cada um de nós. Que nos criou e que nos ama independente do que os homens pregam.

O filme, por ser alternativo, não foi para as telas de cinema, mas pode ser encontrado para compra aqui . Caso você possua TV a cabo, está sendo televisionado pelo Canal Max (entre em contato com sua operadora).
Mas se não se enquadra em nenhuma dessas opções acima, pode assisti-lo aqui.
O filme ainda tem uma bela trilha sonora de músicas góspeis clássicas, com pegada meio country meio rock acústico.

Confesso que as últimas cenas me levaram as lágrimas. Assista ao filme e sinta-se na pele de alguém que lançou tudo para buscar a Deus, quem sabe essa também é sua história!?

Wendel Bernardes.

Trailler

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ensaio Sobre a Cegueira...




Quando assisti ao filme “O Ensaio Sobre a Cegueira” (Blindness, 2008), adaptação da obra do polêmico Saramago, fiquei chocado.
O filme é perfeito como obra (assisto filmes e leio livros entendendo-os como obras distintas), pois sua linguagem é absolutamente diferente. Nesse caso não li o livro, mas entendo completamente o que o autor quis dizer.

Em lugar qualquer, onde pessoas vivem suas vidas num corre-corre continuo, num dia comum, uma doença misteriosa (que posteriormente seria conhecida como “Cegueira Branca”) assola sua primeira vítima, aparentemente de forma ocasional e aleatória. Aos poucos a desgraça atinge uma grande fatia da população e mesmo os esforços mais contundentes mal conseguem entender a origem da doença, quiçá curá-la.

A loucura generalizada e o caos comum atingem aos habitantes e logo a única alternativa encontrada pelos gestores do lugar é segregar os contaminados em locais específicos... Prisões para ser mais exato.

Esses lugares são dominados pelos mais cruéis e negros sentimentos humanos e também pelas ações que esses sentimentos levam. Invejas, traições, mentiras, motins, estupros, roubos... assassinatos! Crimes se misturam a sentimentos comuns onde a única regra é sobreviver e nem sempre com honestidade e dignidade.

O filme foi dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles de Cidade de Deus (2002) e O Jardineiro Fiel (2005). Meirelles contou com a participação de atores muito experientes como Danny Glover, também com atores muito solicitados como Gael Garcia Bernal e Mark Ruffalo. Inseriu a brasileira (já famosa lá fora) Alice Braga (de Predadores 2010, Repo Men 2010, Eu Sou a Lenda 2007).


Mas o papel de destaque talvez fique mesmo com a ótima atriz Julianne Moore. A personagem de Moore é estranhamente a única pessoa (dentre os presos) não afetada pela moléstia, mas por conta do profundo amor pelo marido e de sua noção de fidelidade e compromisso, aliado a um extinto senso de misericórdia faz-se de cega para não abandoná-lo a miséria completa. A personagem de Moore poderia viver simplesmente como uma deusa entre mortais, mas é exatamente sua índole que a faz mais uma defensora que uma imperatriz.

O filme ao mesmo tempo em que mostra sem pudores a vergonha dos piores sentimentos humanos, mostra também que a esperança pode ser encontrada onde menos improvável seria de se imaginar; dentro do próprio enganoso e confuso coração do homem.
Quem sabe mesmo na sua mais profunda ausência de fé nalgo sobrenatural, Saramago sem querer, apontou pra uma possibilidade única: Seria essa fagulha de luz em meio às trevas humanas algo divino?

 O filme foi indicado a várias premiações, e se as ganhou o fez com méritos. A direção de Meirelles em nada lembra o modo estadosunidense de fazer cinema, quem sabe por conta disso acerta em cheio. Cenas desalinhadas, closes vertiginosos, planos que desnudam. Tudo combinado com boa fotografia, locações excelentes fazendo da obra algo que ficará para a posteridade.

Me surpreendeu a bilheteria aqui no Brasil (algo em torno 787.000 ingressos). Surpreendeu-me ainda mais as possibilidades que a obra tem como poder reflexivo.
Quem somos quando ninguém nos observa?
O que fazemos quando estamos longe da vista da sociedade como um todo?
O que há de mal, o que sobra de bom?
Refletindo...

Wendel Bernardes.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sangrando e Sendo Curado...

 
Quando eu soltar a minha voz,  por favor  entenda, que palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando...

Caramba! Para mim, esse fragmento de poesia - tristonha mas curativa - reflete exatamente o que aconteceu. Foi assim que eu visualizei a chegada de Gonzaguinha naquele ambiente que seria permeado de flashbacks. Numa regressão terapêutica, ele simplesmente se entrega àquela busca por respostas a uma enorme inquietude interior.
Tudo começa quando, impulsionado pela madrasta,  o esperançoso filho vai ao encontro do pai para poder se encontrar. Ele ainda não sabia disso pois seu coração estava cheio de amargura. Porém, à medida em que conversavam, diferenças amenizadas, arestas aparadas... A amargura se esvaía. E eles nem atinavam para isso! E, quanto mais barreiras iam sendo naturalmente rompidas, maior leveza se instalava. E os laços se reintegrando... E os reais valores aflorando... E o menino foi ficando em paz. Analogamente, talvez ele nem soubesse que essa era a ideia: ir em busca do pai e aquietar o coração. Porque essa sempre foi e sempre será a grande sacada da vida.
Gonzaguinha... Olhar perdido, entristecido, introspectivo. Sem mãe, sem pai, sem família, sem infância, sem referências. Entregue a amigos do pai enquanto o pai perseguia um estranho sonho.
Gonzagão. Este era o seu pai. Famoso. Reverenciado. Adorado pelo povo. Este homem obstinado que atravessou as fronteiras dos corações dos quatro cantos do Brasil, mas não abriu o próprio coração nem tampouco alcançou o coração que importava alcançar. O do filho.
Este era o pai de Gonzaguinha que seria desde sempre, o centro de suas crises existenciais. A mãe, não. Era caso resolvido. Já estava ausente. Já havia ido embora para sempre. Fica apenas a triste saudade. Sua grande frustração era a certeza de um pai omisso e egoísta tão presente e tão distante. Este pai, que ainda adolescente,  persegue sua meta esquecendo-se dos valores principais, obcecado em provar que não era um ‘sem eira nem beira’.
E, assim, enquanto se desenrola a história da vida do pai, se revela na alma do filho a ânsia de todo ser humano: sarar as feridas, remir as dores, reatar os laços, resgatar a vida. E isso só se consegue quando se está decidido, pois que  é efetuado o querer em nosso coração.
E isso foi o que quis o poeta. Ele sai de um falso habitat e segue rumo às suas raízes. Enfrenta a capa de superioridade de um pai envolto no glamour e consegue conduzi-lo ao foco de sua perseguição, trazendo à tona sua emoção mais escondida. É quando tudo acontece. É quando cai a ficha. É quando ambos se curam de suas feridas mais doridas. O pai que reconhece, se humilha e, simplesmente, pede perdão. Eis o clímax! Momento denso. Desconcertante. (A forte impressão que me causa é que a plateia em cheio para de respirar no exato momento, em perfeita sintonia de orquestração, ao mesmo tempo gritante e silenciosa).
Há, ainda, a preciosa figura da conselheira que, muito mais do que uma simples doméstica, desempenha com maestria o papel de sábia conciliadora. De um lado, trata de acalmar o coração do filho, revoltado com um pai meramente provedor;  de outro lado, sacode o pai artista/sonhador chamando-o a razão para o que há de mais precioso na vida.
Aliás, são duas as mulheres marcantes nesse reencontro. A primeira - lá do início - faz papel de intermediadora como querendo se redimir. Ela diz: seu pai precisa de você – mesmo sem nunca ter percebido o quanto ele precisou do pai e sem sequer imaginar que assim estaria unindo a ambos.
Tudo é um processo. Impressiona o desenrolar dos conflitos interiores do filho que culmina com o pedido de perdão por parte do pai desconfiado, omisso e egoísta. Não há segredo nem mágica. Há disposição, entrega, desarmamento total. O perdão e o amor fecham a questão.
Há o filho que insiste em procurar o pai, ainda que todo desmontado, ferido, mas em busca de respostas. E por amor, unicamente. O pai, por sua vez, após um longo período de teimosas racionalizações para o glamour em que vive, finalmente cai em si e, reconhecendo as tremendas vaciladas, diz: filho, me perdoa. Pronto, ali toda a dor se neutraliza. Porque há CURA.
Filme de fotografia impecável, a irônica reflexão fica por conta do final, onde um singelo juazeiro dá sombra aos dois que se reconciliam em frente à casa abandonada do poderoso coronel que provocara o pai de Gonzaguinha a sair mundo afora. Para ‘provar’ o que era vão...


Regina Farias é Blogueira e escritora e é autora deste texto visceral e de muitos outros no Blog Bora Ler

sábado, 20 de outubro de 2012

Vivendo Entre dois Mundos


O que você faria se mesmo após sua morte fosse lhe dada uma segunda chance de continuar vivendo aqui na Terra? E se lhe fosse dito que essa chance lhe fosse dada pelo próprio Deus através de seus anjos?


Em 'Entre a Vida e a Morte' (The Lazarus Project, 2008), Paul Walker (um dos astros da franquia Velozes e Furiosos) é Ben Garvey. Um homem que tenta mudar seu passado, ou pelo menos redirecioná-lo da melhor forma que conhece: trabalhando!

É um funcionário exemplar e foca-se nesse trabalho para que sua dívida com a sociedade seja paga. Porém o preconceito de seus superiores acaba com o sonho de ressocialização de Ben mais cedo.
Ao chegar em casa após a demissão, não consegue dizer a verdade a sua esposa Lisa (Piper Perabo de O Grande Truque e Doze é Demais 1 e 2). Tudo isso se acumula à novidade de ver seu irmão que acaba de ser livre da cadeia e o convence a participar de um ‘ganho ilícito’.

Tudo dá errado e Ben é o único sobrevivente da mal fadada situação, mas não por muito tempo. É condenado pelo Estado à morte por injeção letal, mesmo não cometendo assassinato algum. Curiosamente a pena capital é cumprida rapidamente. Só que Ben surpreendentemente acorda tempos depois e flashes de sua conturbada memória revelam que um ser chamado Gabriel (Lambert Wilson de Mulher-Gato e Matrix Reloaded), supostamente um anjo divino, lhe avisa que uma nova chance lhe é dada em vida na Terra. E a única coisa que não poderia fazer além de sair da instituição que lhe acolheria seria ver de novo sua esposa e filha.

Sem chances de argumentos (quem argumentaria com um anjo de Deus?), Ben se vê agora num local onde uma religião administra um centro de recuperação com atitudes muito estranhas.

O filme é uma adaptação de um romance e é dirigido por John Glenn (roteirista de Controle Absoluto, 2008) que optou por uma versão direta para DVD tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos. A obra de pequeno orçamento transita mais no circuito ‘alternativo’ e possui uma boa trama e adaptação honesta e convincente.

Será que temos direito à segunda chance mesmo após a morte? Embora esse tema seja muito discutido pelas múltiplas religiões e suas filosofias a única certeza que temos é que em vida podemos tomar decisões. Se essas decisões são certas ou erradas apenas o tempo dirá.
No caso de Ben estar ‘vivo depois da morte’ não seria exatamente uma dádiva, pois não possuía a quem amava junto de si.  O que valeria para ele zanzar como zumbi por mais décadas de vida se não poderia ser feliz ao lado de seus maiores amores?

Assista ao filme e veja o final surpreendente dessa trama de suspense a aproveite para analisar: se tivesse uma ‘segunda chance’ viveria exatamente igual, sem arrependimentos ou remorsos, ou faria seu próprio destino reinventando-se e buscando algo novo?

Wendel Bernardes.

(Trailler Original em Inglês, sem legendas)




terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aprendendo a Jogar com a Vida.



Que Ridley Scott é um dos maiores produtores de Blockbusters de sua geração não é novidade. No gênero de filmes de ação então, nem se fala. Alguns de seus trabalhos mais recentes são simplesmente referência nessa fatia de mercado. Porém ele às vezes, como todo bom artista que precisa se reinventar, aventura-se por caminhos diferentes, como que querendo arriscar-se e não cair na mesmice.
É o caso do longa ‘Os Vigaristas’ (Matchstick Man, 2003). O filme mostra a vida complicada do trambiqueiro Roy (Nicolas Cage) que vive apenas de seus golpes.

Cage veste um homem imerso em um universo conturbado. Possui TOC e por conta disso faz uso de medicamentos pesados para conseguir interagir com o mundo, que no seu caso não é feito de tanta gente assim – a não ser seu discípulo e comparsa Frank (Sam Rockwell). Mas o espanto toma conta de sua vida quando do nada lhe aparece uma adolescente dizendo ser sua filha.

Isso fere os alicerces já mal fadados na vida de Roy. Uma adolescente curiosa e rebelde não fazia mesmo parte dos seus planos, mas aos poucos, com a ajuda de um analista indicado pelo comparsa Frank, começa a enxergá-la com os olhos de um pai, quase se acostumando com a ideia.

O filme embora um drama com contornos do gênero policial, possui um humor fino (característica de Scott em alguns trabalhos) que envolve o expectador no universo desse personagem vivido por Cage, que por muito pouco não acerta a mão na interpretação difícil de alguém que precisa parecer perturbado, mas não um pateta (quem acerta o alvo na interpretação do personagem é o bom Rockwell).

Às vezes por conta de erros e desacertos, construímos como Roy um mundo paralelo onde existe uma realidade completamente diferente e quase sempre nociva onde interagimos apenas com quem e com o que queremos. Apenas um violento choque de realidade e muitas vezes até decepções, pode nos trazer de volta a percepção dura, porém necessária.

A obra toca bem nesse assunto em seu desenrolar e Roy acaba permitindo aos poucos, mesmo por conta de um erro, que a vida siga seu rumo não para uma ‘cura’, mas sim para as múltiplas possibilidades positivas que nos são apresentados mesmo durante ou após a diversidade. Mas será que Roy fez a decisão certa?

Curto muito os trabalhos de Scott, e esse em especial por ser um diferencial dentre tantos outros. Por ser catálogo, Os Vigaristas costuma ser reprisado nas grandes redes de canais de filmes com certa frequência e até na TV aberta. Mas também é disponível pra assistir na web, tanto nos canais pagos quanto nos gratuitos (caso sua locadora não possua).

É uma boa opção para dar uma desintoxicada de filmes com ritmos mais intensos. Vale a pipoca, o guaraná. Divirta-se e reflita!

Wendel Bernardes.