segunda-feira, 23 de abril de 2012

Código de Conduta. (Law Abiding Citizen 2009)



O que é Felicidade? Muitos podem defini-la como a realização de alguns sonhos. Se isso for verdade Clyde Shelton (Gerard Burtler de 300, Como Treinar Seu Dragão e P.S. – Eu Te Amo) é um homem feliz. Bem sucedido, bem casado e pai de uma menininha linda.
Infelizmente esse conto de fadas moderno é arrancado de Clyde quando uma dupla de bandidos entra em sua casa e mata covardemente sua família na sua frente com requintes de crueldade inimagináveis por quaisquer seres civilizados.

A dor da perda transforma-se em sede de justiça, os bandidos são pegos e presos. Clyde é um cidadão modelo que acredita na lei e em seu cumprimento pelas autoridades competentes. Mas tudo começa a desencaixar quando um dos bandidos consegue a liberdade por conta de um acordo feito com o gabinete da promotoria. Nick (Jamie Foxx ganhador do Oscar, Golden Globe, SAG Awards e Bafta por Ray em 2005) é um jovem promotor em ascensão e segundo seu ponto de vista a justiça fora feita no caso de Clyde, mesmo que pra isso acordos escusos tenham sido engendrados.

O mundo do crédulo Clyde entra em parafuso quando entende que o sistema que prende, julga e põe em liberdade culpados não arrependidos e não ressocializados é sujo, e não apenas isso, é também comprometido em vários nichos e escalões. Dez anos se passam até que a vingança de Clyde começa a ser posta em prática. Vende seus bens, adquire conhecimentos autodidatas em direito e torna-se polícia, juiz e carrasco de todo um sistema.

O filme se desdobra em muitos acontecimentos e alguém antes tipo pela sociedade como mais uma vítima esquecida, passa a ter o papel de criminoso. Suas noções de certo e errado começam a ceder à medida que a certeza da impunidade defende a malignidade e desampara ainda mais quem está à beira da loucura por ver seu mundo morrer.

Embora o filme não aborde exatamente esse tema, fica ecoando na mente de cada espectador a seguinte pergunta: O que é certo e errado? Quem é mais criminoso, o bandido que rouba, tortura e mata pelo simples prazer do ato, ou o homem que reagindo à esse gesto, evoca seus demônios interiores e mata (de todos os modos possíveis) um monte de vidas para vingar-se de sua perda?

Os valores invertidos encravados em nós dizem que a vítima só pode ser vingada com um banho de sangue igual ou superior ao que fora submetido.
“Olho por olho, dente por dente.”

Mas não é assim que a Graça encerra. Embora existam erros negros como a noite, se deparadas com a cruz onde há arrependimento genuíno, podem ser convertidos em absolvição e paz.
Ao mesmo passo que com a vítima, havendo liberação de perdão, faz-se grande o alivio. Muito embora uma atitude não dependa da outra.

Confesso que o personagem de Butler pra mim nesse filme ganha ‘contornos de herói’. Chego a sentir o gosto da vingança junto a cada gesto de retaliação do mesmo. Parece que tudo está cada vez mais amalgamado com a porção caída do ‘Adão’ que há em mim.

Recomendo o filme (que já foi veiculado algumas vezes na TV aberta) a todos que queiram emoções fortes e questionamentos internos. Aos amantes do suspense e ação não faltam cenas clássicas desses gêneros bem dirigidas por F. Gary Gray. Butler está ótimo no papel tanto da vítima quanto do vingador enquanto Foxx (muito focado) mostra que talvez deva continuar se enveredando pelos caminhos do drama, nos quais tem sido incrivelmente bem sucedido. Suas últimas atuações em filmes do gênero como no brilhante “O Solista” (adaptação pro cinema de ‘Desejo e Reparação’ ao lado de Robert Downey Jr.) deixaram para trás definitivamente a ideia de que ele seria mais um rapper aventurando-se no cinema.

Perturbe-se, aventure-se, divirta-se.
Wendel Bernardes.

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