sábado, 20 de outubro de 2012

Vivendo Entre dois Mundos


O que você faria se mesmo após sua morte fosse lhe dada uma segunda chance de continuar vivendo aqui na Terra? E se lhe fosse dito que essa chance lhe fosse dada pelo próprio Deus através de seus anjos?


Em 'Entre a Vida e a Morte' (The Lazarus Project, 2008), Paul Walker (um dos astros da franquia Velozes e Furiosos) é Ben Garvey. Um homem que tenta mudar seu passado, ou pelo menos redirecioná-lo da melhor forma que conhece: trabalhando!

É um funcionário exemplar e foca-se nesse trabalho para que sua dívida com a sociedade seja paga. Porém o preconceito de seus superiores acaba com o sonho de ressocialização de Ben mais cedo.
Ao chegar em casa após a demissão, não consegue dizer a verdade a sua esposa Lisa (Piper Perabo de O Grande Truque e Doze é Demais 1 e 2). Tudo isso se acumula à novidade de ver seu irmão que acaba de ser livre da cadeia e o convence a participar de um ‘ganho ilícito’.

Tudo dá errado e Ben é o único sobrevivente da mal fadada situação, mas não por muito tempo. É condenado pelo Estado à morte por injeção letal, mesmo não cometendo assassinato algum. Curiosamente a pena capital é cumprida rapidamente. Só que Ben surpreendentemente acorda tempos depois e flashes de sua conturbada memória revelam que um ser chamado Gabriel (Lambert Wilson de Mulher-Gato e Matrix Reloaded), supostamente um anjo divino, lhe avisa que uma nova chance lhe é dada em vida na Terra. E a única coisa que não poderia fazer além de sair da instituição que lhe acolheria seria ver de novo sua esposa e filha.

Sem chances de argumentos (quem argumentaria com um anjo de Deus?), Ben se vê agora num local onde uma religião administra um centro de recuperação com atitudes muito estranhas.

O filme é uma adaptação de um romance e é dirigido por John Glenn (roteirista de Controle Absoluto, 2008) que optou por uma versão direta para DVD tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos. A obra de pequeno orçamento transita mais no circuito ‘alternativo’ e possui uma boa trama e adaptação honesta e convincente.

Será que temos direito à segunda chance mesmo após a morte? Embora esse tema seja muito discutido pelas múltiplas religiões e suas filosofias a única certeza que temos é que em vida podemos tomar decisões. Se essas decisões são certas ou erradas apenas o tempo dirá.
No caso de Ben estar ‘vivo depois da morte’ não seria exatamente uma dádiva, pois não possuía a quem amava junto de si.  O que valeria para ele zanzar como zumbi por mais décadas de vida se não poderia ser feliz ao lado de seus maiores amores?

Assista ao filme e veja o final surpreendente dessa trama de suspense a aproveite para analisar: se tivesse uma ‘segunda chance’ viveria exatamente igual, sem arrependimentos ou remorsos, ou faria seu próprio destino reinventando-se e buscando algo novo?

Wendel Bernardes.

(Trailler Original em Inglês, sem legendas)




terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aprendendo a Jogar com a Vida.



Que Ridley Scott é um dos maiores produtores de Blockbusters de sua geração não é novidade. No gênero de filmes de ação então, nem se fala. Alguns de seus trabalhos mais recentes são simplesmente referência nessa fatia de mercado. Porém ele às vezes, como todo bom artista que precisa se reinventar, aventura-se por caminhos diferentes, como que querendo arriscar-se e não cair na mesmice.
É o caso do longa ‘Os Vigaristas’ (Matchstick Man, 2003). O filme mostra a vida complicada do trambiqueiro Roy (Nicolas Cage) que vive apenas de seus golpes.

Cage veste um homem imerso em um universo conturbado. Possui TOC e por conta disso faz uso de medicamentos pesados para conseguir interagir com o mundo, que no seu caso não é feito de tanta gente assim – a não ser seu discípulo e comparsa Frank (Sam Rockwell). Mas o espanto toma conta de sua vida quando do nada lhe aparece uma adolescente dizendo ser sua filha.

Isso fere os alicerces já mal fadados na vida de Roy. Uma adolescente curiosa e rebelde não fazia mesmo parte dos seus planos, mas aos poucos, com a ajuda de um analista indicado pelo comparsa Frank, começa a enxergá-la com os olhos de um pai, quase se acostumando com a ideia.

O filme embora um drama com contornos do gênero policial, possui um humor fino (característica de Scott em alguns trabalhos) que envolve o expectador no universo desse personagem vivido por Cage, que por muito pouco não acerta a mão na interpretação difícil de alguém que precisa parecer perturbado, mas não um pateta (quem acerta o alvo na interpretação do personagem é o bom Rockwell).

Às vezes por conta de erros e desacertos, construímos como Roy um mundo paralelo onde existe uma realidade completamente diferente e quase sempre nociva onde interagimos apenas com quem e com o que queremos. Apenas um violento choque de realidade e muitas vezes até decepções, pode nos trazer de volta a percepção dura, porém necessária.

A obra toca bem nesse assunto em seu desenrolar e Roy acaba permitindo aos poucos, mesmo por conta de um erro, que a vida siga seu rumo não para uma ‘cura’, mas sim para as múltiplas possibilidades positivas que nos são apresentados mesmo durante ou após a diversidade. Mas será que Roy fez a decisão certa?

Curto muito os trabalhos de Scott, e esse em especial por ser um diferencial dentre tantos outros. Por ser catálogo, Os Vigaristas costuma ser reprisado nas grandes redes de canais de filmes com certa frequência e até na TV aberta. Mas também é disponível pra assistir na web, tanto nos canais pagos quanto nos gratuitos (caso sua locadora não possua).

É uma boa opção para dar uma desintoxicada de filmes com ritmos mais intensos. Vale a pipoca, o guaraná. Divirta-se e reflita!

Wendel Bernardes.


sábado, 13 de outubro de 2012

Quando Falam os Reis...




Poucos filmes baseados em fatos caem no esquecimento, não será diferente com ‘O Discurso do Rei’ (The King’s Speech, 2010) de Tom Hooper.
O premiado trabalho (ganhador de um Globo de Ouro, sete prêmios Bafta e quatro Oscars) conta a comovente história do britânico rei George VI (Colin Firth) e de seus notáveis problemas em assumir o trono.

Eram tantas as situações em voga; a complicada política da Europa com o crescimento de Stalin e Hitler, os escândalos de seu irmão mais velho e sua dificuldade em manter-se no trono. Porém aparentemente o que mais amedrontava o futuro monarca era a vergonha de sua gagueira.
A simples menção de falar em público e manter a responsabilidade de inúmeros discursos e pronunciamentos, faziam-no tremer como criança.

É nesse momento que entra na vida do rei Lionel Logue (Geofrey Rush de Piratas do Caribe), um terapeuta da fala nada convencional, que aos poucos lhe faz tanto assumir o controle de seu medo, quanto mostra ao ascendente ao trono a importância de coisas que a ele eram aparentemente fúteis, como por exemplo, o valor de uma boa amizade.

O filme é emocionante e conta com atuações primorosas de Helena Bonhan-Carter (Duquesa de York/Rainha Elisabeth), e Guy Pearce (Príncipe de Gales/Rei Eduardo VIII), isso sem mencionar Rush que está impagável!
A reconstrução de arte é grandiosa e o modo como o filme é conduzido, às vezes até com takes e áudios originais, nos remetem ao Reino Unido dos anos trinta.

Como já disse o filme não trata de superação, mas de autocontrole. Quem sabe acabar com os medos reais e entender as responsabilidades do peso da coroa estivessem mesmo aquém das possibilidades até mesmo de Lionel, mas controlar o medo, reger o ímpeto, acalmar os ânimos fez com que o agora rei George VI, que secretamente invejava a eloquência de Hitler, mostrasse ao mundo a real importância do poder das palavras.

Às vezes nos portamos como verdadeiros tolos quando buscamos vencer inimigos bem mais fortes. Como o pássaro que enfrenta em vão o furacão, ou o peixe que tenta domar as marés, mas algo de maior valor é conseguir dobrar a si mesmo, manter seus medos, e, por conseguinte, seus fantasmas dominados.
A tarefa é tão ou mais difícil que a alternativa. A obra nos mostra isso sensivelmente.

A bela atuação de Firth rendeu muitos elogios, inclusive da verdadeira filha do rei George VI, a rainha Elisabeth, que se disse emocionada com a leitura de Firth para seu pai.

Wendel Bernardes.

(Assista ao Trailler)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Você Acredita em Destino?



Essa história agrada tanto aos amantes de um bom filme de ação e supense, mas não falta o romance clássico que a mulherada adora!

David Norris (Matt Damon) é um jovem político em ascensão e conhece completamente por acaso a bela Elise (Emily Blunt de O Diabo Veste Prada) uma promissora bailarina de Manhattan. Eles se apaixonam profundamente e esse encontro pode mudar e muito a vida de ambos. Mas algo aparentemente sobrenatural intervém para que não haja um novo encontro.

Depois de algumas tentativas David flagra uma cena surreal, onde uma instituição secreta tenta reprogramar a vida das pessoas ao seu redor. Mesmo sem querer acreditar em sua vista o jovem congressista é forçado e entender que está lutando contra algo que sequer pode conceber.

É nesse momento que conhece Harry Mitchell (Anthony Mackie, de A Beira do Abismo), um estranho homem de chapéu membro dessa organização misteriosa. Harry lhe revela ser membro dos Agentes do Destino (2011), um grupo místico que influencia na história da humanidade desde sempre. David nota que se quiser ficar com Elise terá que lutar contra a vontade de forças obscuras numa briga que certamente não poderá ter êxito segundo a visão dos Agentes.
Porém David é alguém completamente obstinado e moverá céus e terras para estar ao lado de sua amada, mesmo que pra isso tenha que mudar drasticamente seu futuro e o dela!

O filme tem um desenrolar surpreendente. Assuntos como livre arbítrio, destino, manipulação da liberdade são discutidos sobre a ótica tanto da instituição quanto a do futuro casal que fará de tudo para estar junto e feliz.

A obra tem a boa direção de George Nolfi que faz sua estréia como diretor de cinema, antes foi roteirista dos bons Doze Homens e Outro Segredo e Ultimato Bourne.  
O filme ainda possui fotografia impecável, efeitos especiais convincentes. Mas parece que em algum momento fica evidente a falta de um bom roteiro adaptado, já que alguns diálogos parecem não serem auto-explicativos.
Nada que interfira no desenvolvimento da ideia do filme como obra.
A adaptação é do texto original de Phillip K. Dick, velho conhecido do cinema por outras adaptações de obras suas como: O Vingador do Futuro, Blade Runner e Minority Report.

O filme tem um ar romântico ao mesmo tempo em que um drama se instala na vida de Elise e David. Será que se pode mudar o destino escrito até mesmo por seres que o fazem há gerações? Será que esse destino seria o melhor pras suas vidas?

Todos os dias somos responsáveis pelos gestos que temos. Cada atitude, certa ou errada, escreve uma história que, às vezes parece rever o passado e segregada a uma mesma escolha e às vezes parece quebrar barreiras.
Embora a liberdade de fazer o que se quer tenha um preço (às vezes até alto) o obra toca em assuntos que sempre nos fazem pensar.
Sou dono de meu próprio destino?
Minhas escolhas afetam minha vida para sempre?
Livre arbítrio existe mesmo?
Curti demais o filme, mesmo com suas peculiaridades e aconselho a quem gosta de ser confrontado a pensar sempre!

Wendel Bernardes.

 (Trailler Legendado)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um Bom Ano.

Que sou fã de Ridley Scott e das suas produções de ação e suspense não é novidade alguma. Mas quando assisti ao filme Um Bom Ano (A Good Year, 2006) realmente me surpreendi.


O enredo do filme conta a história do workaholic Max Skinner (Russel Crowe), homem de negócios que mal tem condições para gerir a própria vida a não ser no que tenha relação com seu trabalho, que alias custa cada segundo de seu tempo. Mas a vida nem sempre foi assim. Quando criança Max teve contato com seu tio Henry (Albert Finney), dono de uma vinícola familiar numa certa região bucólica da França.

A vida, preparando mais uma de suas reviravoltas, atinge Max com a notícia do falecimento de seu amado tio. E como ele é seu único herdeiro, deixa temporariamente seu trabalho alucinante para ver as terras e saber o quanto pode lucrar com elas, já que não tem a mínima intenção de seguir os negócios da família.

Tudo o que Max queria era sair logo dali, pois as recordações o remetiam a um menino ‘fraco’, diferente do homem forte e auto-suficiente de hoje, mas aos poucos ele é pego pelos detalhes das lembranças e até a iminência de um antigo amor ressurgir, pode fazer tudo mudar em sua vida.

A obra é de uma condução primorosa. Scott tem a mesma paixão fazendo mega filmes de ação, quanto sensibilidade para lançar um filme com a doçura e a perícia de enxergar que cinema romântico não se faz apenas com os vários clichês que o envolvem. E Russel Crowe, provando mais uma vez que é bem mais versátil que o ator que apenas veste farda, ou armadura, mostrando seu lado cômico em muitas cenas, mas também abusa da arte de interpretar nas cenas mais dramáticas.

A obra infelizmente não está entre as mais conhecidas do grande público. Só pra se ter idéia, sua exibição em salas brasileiras vendeu apenas pouco mais que 95.000 ingressos (que pra um filme de Scott é quase um fiasco). Mas não por conta de seu conteúdo. O filme é apaixonante e destaco também a fotografia primorosa (as locações são lindíssimas) e as atuações da atriz francesa Marion Cotillard (Contágio) e de Albert Finney (de O Legado Bourne, Traffic e Doze Homens e Outro Segredo).

Quando somos lançados pelas circunstâncias nas mais diversas (e às vezes adversas) situações, cremos que a resposta mais rápida para simplesmente nos livrar daquela peça que o destino nos causou é apenas dizer; ‘não’!
Mas mesmo assim, a vida nos ensina que quando somos levados a enxergar com olhos mais amplos, às vezes até com um empurrãozinho, tudo não passava de uma ótima oportunidade pra sermos felizes.
Curta o filme e aventure-se a dizer ‘sim’ mais vezes!

Wendel Bernardes.

 (Trailer Original em Inglês, sem legendas ou dublagem)